Cérebro Uma Máquina Pensante



  

Será que o cérebro humano é capaz de desvendar seus próprios e intrigantes enigmas? É o mundo tal qual o percebemos ou vivemos mergulhados num lago de ilusões? Algumas dessas antigas indagações, temas de debate entre os primeiros filósofos, começam a ser respondidas neste final de milênio.

Os mais recentes estudos sobre o assunto utilizam ferramentas de diversas áreas do conhecimento, como a neurologia, a psicologia, a física e a própria filosofia.
As novas descobertas provam que o cérebro funciona como um computador extremamente complexo. Em suas pequenas usinas de elaboração e decodificação de dados, distribuídas por 1,4 quilo de material orgânico, a realidade é recriada permanentemente, dia e noite.
Nas reportagens a seguir, você embarcará em uma aventura pelos mistérios da vasta mansão onde dorme a alma humana.

Capítulo 1:

A REALIDADE QUE SÓ EXISTE DENTRO DE NÓS

Penso, logo existo". A máxima do filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) é hoje o mote de vivas polêmicas em torno dos conceitos de mente, consciência, emoção e razão. Descartes inspirou intelectuais e cientistas por séculos com seu método analítico de raciocinar. Sua frase emblemática sugere que o homem é definido pela capacidade de pensar e pelo fato de saber que pensa. Ao mesmo tempo, no entanto, o sábio concebe a mente como uma entidade não material, habitante da cabeça dos homens, mas, em essência, diferente do cérebro.
Recentes estudos sobre o cérebro revelam que Descartes estava enganado. A identificação dos processos físicos e químicos ocorridos na imensa teia dos neurônios prova que a consciência - ou pelo menos boa parte dela - se produz no mundo da matéria. As novas descobertas não significam, entretanto, que tenha sido desvendado o mistério da mente humana, da capacidade de sentir, de analisar e de reagir ao mundo. Ao contrário, as pesquisas mostram que o cérebro, tal qual os sistemas galácticos, encerra enigmas que desafiarão muitas das próximas gerações.
Se o astrônomo se encanta com os bilhões de pontos cintilantes que bordam a noite, o neurologista suspira diante da fantástica malha de 100 bilhões de neurônios que se espalham por 1,4 quilo de material orgânico. E os sistemas solares, as galáxias e os buracos só existem no universo cósmico porque podem ser percebidos e interpretados por esse micro-macro universo que preenche o crânio dos homens. Sem alguém que a admire, que reconheça seu brilho e suas formas, a Lua não existe. Nem existem os poemas que a fazem personagem da vida e a integram ao teatro dos amores e das paixões.
As cores, da mesma forma, existem somente para o cérebro, capaz de "trabalhar" impulsos elétricos nervosos e transformá-los em uma interpretação particular daquilo que se vê na presença da luz. Um extraterrestre - o "monstrengo" do filme O Predador, por exemplo - habilitado a "enxergar" somente pela decodificação de sinais de calor, teria enorme dificuldade para dialogar com um jardineiro humano sobre flores multicoloridas.
O neurologista Antônio Damásio, chefe do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Iowa, nos EUA, reúne em seu livro O Erro de Descartes novas reflexões sobre essas dicotomias: o corpo e a mente, a razão e a emoção. Segundo ele, é chegada a hora de se reconhecer que o espírito habita um organismo vivo, em que o cérebro e o resto do corpo vivem intimamente integrados.
O cientista argumenta que os estímulos sensoriais e as emoções resultantes são fatores fundamentais na estruturação do edifício orgânico do pensar. "O cérebro humano e o resto do corpo constituem um organismo indissociável", sustenta. De acordo com Damásio, a dificuldade da ciência em desvendar os mistérios da mente não deve diminuir o entusiasmo dos que se propõem a realizar a tarefa. Talvez, segundo ele, essa seja a mais fantástica aventura oferecida aos homens de coragem. "A emoção e os sentimentos constituem a base daquilo que os seres humanos têm descrito como alma ou espírito humano", escreve. Resumindo as inquietações de muitos de seus companheiros, o neurologista inverte a máxima de Descartes: "existo (e sinto), logo penso".
Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/
edicao/especial/ciencia/cerebro

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