O Gnosticismo Alquímico de Nikola Tesla
Em
postagem anterior sobre o filme “A Origem”, falávamos da surpresa de o
diretor Chistopher Nolan , após filmes críticos e com sabor gnóstico
como “Amnésia” e “O Grande Truque”, cair sob o fascínio das
neurociências. Discutíamos que o protagonista Cobb não está interessado
em iluminação ou qualquer tipo de reforma íntima.
Ele
apenas procura deletar sua culpa, materializada nas insistentes
projeções do seu subconsciente que atrapalham a sua missão corporativa e
pessoal (voltar para seus filhos). Daí a surpreendente postura acrítica
de Nolan diante das tecnociências contemporâneas.
Essa
discussão fez-me lembrar de outro filme dirigido por Christopher Nolan,
“O Grande Truque” (The Prestige, 2006) e, principalmente, do personagem
histórico e misterioso cientista e físico Nikola Tesla, performado pelo
gnóstico pop David Bowie nesse filme.
A
figura controvertida e polêmica de Tesla é lembrada por um grande arco
de discussões que vai desde as Teorias Conspiratórias (as aplicações
militares das suas invenções e experiências pelo governo dos EUA e sua
misteriosa morte quando seu arquivo com suas anotações e projetos
estranhamente desapareceram) até as discussões sobre as possíveis
relações entre tecnologia e motivações místicas (no auge da sua
carreira, Tesla começou a lidar com noções teosóficas da ciência
védica).
Mas,
acompanhar sua trajetória (muitos afirmam que suas descobertas teriam
sido mais importantes que as de Einstein) é perceber o desparecimento de
um tipo de concepção da ciência e tecnologia de cunho alquímico, que
progressivamente, no século XX, deu lugar à tecnognose cabalística,
identificada com códigos de controle e exclusão.
Uma Física Alquímica
“Através do século XIX, símbolos e práticas em torno da eletricidade mantiveram acesa a chama da velha Alquimia. O vitalismo elétrico e os transes magnéticos mantiveram vivo o espírito do animismo em plena era do mecanismo. Comunicação elétrica, a fotográfica captura das ondas de luz, e a descoberta do espectro eletromagnético ajudaram a dissolver o mundo do materialismo atomista no interior de um universo de vibrações incorpóreas. Mas a eletricidade e o espectro eletromagnético também materializaram a mais prometéica e tecno-utópica dimensão da mentalidade alquímica.”(DAVIS, Erik. Techgnosis. London: Serpents Tail, 2004, p. 84.
Em pleno século do paradigma do
mecanismo, a descoberta dos fenômenos da eletricidade e do
eletromagnetismo acenderam a imaginação científica prometéica e
alquímica. Esses fenômenos de natureza etéria e imprevisível ameaçaram
quebrar o paradigma cabalístico da ciência mecanicista, marcada pelas
ideias de confinamento, especialização, abstração, controle e
segregação. Em outras palavras, uma certa visão de que a matéria seria
algo disforme, necessitando de uma codificação abstrata fornecida pela
ciência (números, cálculos etc.) para criar ordem, hierarquia,
direcionamento, tudo sob o controle de uma elite esclarecida.
O
sérvio Nikola Tesla (nascido em 1856 na Croácia) talvez tenha sido o
mais prometéico dos cientistas que lidaram com esses fenômenos que
fascinaram a imaginação popular na virada de século. Tesla chegou à
América em 1884, sem um tostão no bolso e com uma ideia na cabeça: duas
bobinas, posicionadas em ângulo reto e alimentadas com uma corrente
alternada com noventa graus de fase entre sí fazendo um campo magnético
girar, sem a necessidade do comutador utilizado em motores de corrente
contínua. Era a descoberta da Corrente Alternada (AC), superior
tecnologicamente a Corrente Contínua de Thomas Edison. A vantagem era a
possibilidade de transportar a eletricidade a longas distâncias.
Na
verdade, essa “ideia” de Tesla surgiu como uma imagem completa na sua
cabeça na juventude. Tesla era avesso a papéis e arquivos, evitava-os o
máximo possível. Seu raciocínio científico era analógico e intuitivo.
Era contrário aos métodos dedutivos ou indutivos: “No momento em que uma
pessoa constrói um aparelho para levar a cabo uma idéia crua, ela se
encontra inevitavelmente envolvida com os detalhes deste aparelho”,
Tesla escreveu em sua autobiografia. “Conforme ele procede em tentar
melhorar e reconstruir o aparelho, sua força de concentração diminui e
ele perde de vista o Grande Propósito”.
Esse
ponto de partida alquímico estruturou toda sua visão sobre o propósito
da ciência e tecnologia. Da ideia da AC, Tesla partiu para intensas
pesquisas no laboratório de Colorado Springs, financiado por George
Westinghouse. Mas Tesla queria ir além dos interesses econômicos
monopolistas dos seus financiadores. Ele vislumbrava não mais a
eletricidade confinada em fios e ordenada por sistemas de distribuição,
mas livre para todos, a eletricidade sem fios, transmitida por
ressonância através da atmosfera e do próprio planeta! Energia de graça
para todos!
Ressonância e mutação. Dois
princípios analógicos, alquímicos. Uma pequena quantidade de energia
seria capaz de exponencialmente expandir em escala e frequência,
ampliando a potência até cobrir toda a atmosfera e atravessar todo o
planeta. Tesla tinha em seu poder a pedra filosofal: uma energia
poderosa a partir de princípios holísticos simples, assim como era
simples a “bobina Tesla”, simples o bastante para qualquer interessado
construir, e totalmente funcional em modelos caseiros. Uma inovação
impressionante, que foi a base para o rádio, televisão, e meios modernos
de comunicação sem fio.
A Maior Descarga Elétrica da História
O relato da experiência em
ressonância com eletricidade posta em prática em uma noite em Colorado
Springs, em 1899, é impressionante:
“Certa noite em 1899, Tesla acionou sua máquina em força total, na esperança de produzir um fenômeno que ele chamou de “crescente ressonante”. Sua torre descarregou na Terra dez milhões de volts. A corrente atravessou o planeta na velocidade da luz, forte o bastante para não morrer antes do final. Quando ela chegou ao lado oposto do planeta, ela foi rebatida de volta, como círculos de água voltando à sua origem. Ao voltarem, a corrente estava em muito enfraquecida, mas Tesla estava emitindo uma série de pulsos que se reforçavam um ao outro, resultando em um tremendo efeito cumulativo.No ponto focal, aonde Tesla e seus assistentes assistiam, a crescente ressonante manifestou-se como uma demonstração alienígena de raios que ainda estão até hoje catalogados como a maior descarga elétrica da história. A corrente de retorno formou um arco voltaico que elevou-se até o céu por dezenove metros. Trovões apocalípticos foram ouvidos a trinta e três quilômetros de distância. Tesla, anteriormente, estava preocupado com a possibilidade de haver um limite para a geração de descargas ressonantes, mas, naquele evento, ele passou a crer que o potencial era ilimitado. A demonstração teve um fim inesperado, quando as descargas fizeram com que o gerador de força de Colorado Springs se incendiasse. Tesla não mais recebeu energia grátis dos donos da companhia desde então.” TRULL, D. Tesla: The Eletric Magician. Disponível em http://www.parascope.com/en/1096/tesindex.htm).
Após descobrirem o seu tecno-utópico
propósito, seus financiadores como JP Morgan e Westinghouse o
abandonaram. Tesla ainda tentou ludibriar Morgan ao dizer que a torre
que construía era para construir um equipamento de transmissão de rádio
intercontinental que lhe garantiria o monopólio das comunicações
mundiais. Mas o propósito era outro: a transmissão de energia grátis
para o planeta.
Aos
poucos Tesla aproximou-se da Teosofia através dos ensinamentos de Swami
Vivenkanada, na época (1891) em visita aos EUA. Tesla passou a
descrever os fenômenos que manipulava em termos sânscritos como Akasha,
Prana e o conceito de “Éter Luminífero” para descrever a fonte,
existência e construção da matéria.
Mas
se Tesla com seus princípios alquímicos pretendia a mutação da matéria
em termos de ondas, ressonância, éter etc., enquanto isso o mainstream
científico apenas queria a transcodificação da matéria, isto é,
confiná-la, represá-la para direcioná-la por meio de uma linguagem
codificada e hermética (isto é, acessível somente a uma elite
esclarecida) para fins de dominação econômica e política. O digital, a
linguagem, a tecnologia sobrepondo o analógico, o sensual, a ciência.
Por
isso Tesla, como um dos últimos cientistas alquímicos, pagou seu preço:
morreu em 1943, solitário em um quarto de um hotel onde morava em Nova
York. Financeiramente quebrado e na companhia de um bando de pássaros,
que considerava seus únicos amigos. E seu nome jogado na obscuridade e
banido da história da Física, apesar da sua mais de 700 patentes
registradas em equipamentos diversos que foram surgindo como decorrência
das pesquisas sobre o maior propósito: a energia livre para todos.
Fonte: Revista Fórum
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