Zé, o estadista

Que homem simples. Simplesmente complexo. José Alencar desafiou todos os clichês vivendo-os até as últimas consequências, como se sua vida fosse uma permanente inversão de expectativas ou uma eterna expectativa de mais com bonomia. Passou por 17 cirurgias em 13 anos de combate ao câncer. Saía das CTIs e UTIs sempre otimista. Começou de baixo, trabalhando como balconista, e foi ao topo. Chegou, duas vezes, à Vice-Presidência da República. Ergueu uma empresa que fatura mais de US$ 2,4 bilhões por ano. Empresário bem-sucedido, tendo apenas a quinta série do ensino fundamental, associou-se a Lula num projeto político que outros não aceitariam respaldar por preconceito ou conservadorismo.
Foi um vice-presidente da República com ar e jeito de estadista. Criticou a política dos juros altos sem jamais perder a altura do seu cargo. Fiel ao compromisso assumido, não anulou as próprias convicções, mas nunca caiu na tentação do fogo amigo. Que país, o Brasil! Contando nem dá para acreditar. Um retirante nordestino e um empresário mineiro saídos do nada, ambos sem sequer o ensino fundamental completo, uniram-se para conquistar o poder. Não parece conto de fadas? Não tem jeito de história de filme sobre superações pessoais impossíveis? José Alencar e Lula, dois vencedores que tudo parecia unir e separar ao mesmo tempo, a começar pela ideologia, tornaram-se de fato amigos e parceiros numa aventura que já está nas páginas da história nacional. É de arrepiar.
Quem não torceu por José Alencar nos últimos anos? Aquele seu sorriso, em tantas entrevistas dadas em hospitais, poderia ser apenas outro clichê. E era. O clichê como verdade. A verdade de um homem que parecia imune ao rancor, ao sofrimento e à maldade. Alencar, como Lula, era um nacionalista. Fez a sua parte para melhorar a Nação. Deu o melhor de si como empresário, político e homem. Foi tão longe no seu nacionalismo sem nostalgia, aberto aos tempos da globalização, que talvez a vida tenha-lhe reservado uma ironia sutil. A sua história de brasileiro típico confirma e nega, num só movimento, a trajetória típica dos brasileiros. A maioria não vai tão longe. A maioria, porém, acredita e luta como ele. José, mais um Zé, o Zé Alencar, deu um grande salto, um salto gigantesco para a riqueza e a glória. Zé e Lula, dois brasileiros. É título, insisto, de filme de festival.
Zé e Lula, dois brasileiros nacionalistas e visionários, duas figuras que mudaram o álbum. Daria um grande filme em Hollywood. E agora, José, como diria o outro mineiro, aquele que percebeu o sentimento do mundo, a luz apagou? Não, Zé, a luz para você não se apaga. Zé, você foi forte, consistente, convincente, sorridente e teve fé. Ora (direis), Zé, pensando em outro poeta, ouvir estrelas, e eu, Zé, aqui do meu lugarzinho modesto, nesta hora em que todos se rendem diante de teu percurso, vos direi, Zé, misturando nomes e pronomes, você me convenceu. Zé, obrigado, você foi um gigante. Modestamente. Valeu!
Fonte: Juremir Machado da Silva
Jornal Correio do Povo

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